quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Adeus



Se sentir saudade de mim, leia minhas poesias
Se sentir saudade do meu corpo, feche os olhos
Se sentir saudade da minha voz, ouça nossa música
Se sentir saudade do que vivemos, finja que estava presente
Se sentir saudade do que não tivemos, pergunte o porque a si

Estou a espalhar minhas partículas pelo vento da vida
Disposta a recompor a verdade
Disposta a lapidar imperfeições
Disposta a orientar emoções
Disposta a viver a sinceridade

Estou voando
Estou ventando
Estou inventando
A minha nova realidade

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Clamor


Quanto mais vejo, mais te sinto
Não são só lampejos, são instintos
Mistérios revelados, mas inconfessáveis
Languidas línguas encontrarão segredos impublicáveis
Longilíneas curvas me farão voltar atrás e volver para ti
Lancinantes, desejosos, sedentos de verdades e sonhos

Foges do fogo certeiro
Finges saber o paradeiro
do teu destino menino sem mim
do teu corpo em desconforto sem o meu
do teu intento, sedento, sem minhas águas
do teu mal de amar sem meu doce confortar
do teu fulgor em dissabor sem meu encantamento

Calma
Minha magia é capaz de acalmar teu coração confuso
Minha alegria é suficiente para rirmos de toda bagunça
Clama
Por meus carinhos e terás o céu
Por meus caminhos e estarás sob a lua
Cheia
De idéias para te agradar, para te amar
De histórias para te contar, para inventar
Cheiras
A pecado, a alfazema, a cravo, a mar
A predicados que fazem eu te implorar
Chamas
Meu nome em noites quentes como o fogo
Meu corpo quando cansas do teu próprio jogo 

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Indizível




Não me veja como alguém traduzível
Não me traduza nem com o indizível
Sou alheia às opiniões alheias
Sou areia nos olhos invejosos
Sou sereia nos mares dadivosos
Sou a que serpenteia em teias cheias ou vazias
que não se esquiva em noites de lua ou nos simples dias

Não finja que sou invisível
Não minta, não seja previsível
Estou cheia de tantas canalhices
Estou farta destas quantas mesmices
Estou realmente desencantada, despedaçada
Estou totalmente calada e cansada, forçada à desistência
que não se enquadra em meu discurso, mas em minha impaciência

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Inunda e Esvai


O amor me inunda e me escapa com a mesma velocidade
As palavras doces e as amargas, soam iguais: falsidade
Não sei se fui aprendendo com a idade
Não sei se é a desilusão que me invade

Já nem lembro qual é minha identidade
Se é cedo ou tarde
Se estou vazia ou cheia disso tudo
Se outra vez fujo, ou me iludo
Se me entrego, se me nego
Se me apego
A uma esperança
A uma promessa
A uma ilusão
A uma invenção
A uma crença
A uma remessa
Sem pressa
Sem posse
Sem sonho
Sem gosto
Se posto isto,
Desisto!


Encantamento D'Oxum

Oxum me lavou
Levou-me para o fundo de suas águas
Mostrou-me tesouros ocultos,
ensinou-me seus cantos
contou-me uns segredos
seduziu-me entre mistérios
e seus minérios me ofertou

Oxum me amou
Amarrou-me em seu véu
E presa em seu encantamento
Nem sabia o que era terra ou
firmamento, o que era meu céu
Quem era Ela, quem era eu
Sabia apenas que era bela


Absorta em suas águas
Inebriada por seu canto
Entreguei-me e, coberta por seu manto,
Fui, flui, cai por inteiro no seu infinito
Mergulhei em seu ventre úmido e fértil

Ao abrir os olhos, me vi na superfície
Oxum me segurava para que eu pudesse
respirar o cheiro de seus lírios e perfumes
Trouxe-me às pedras para mostrar
as doçuras e agruras dos amores
que existem, mas não vi
as destrezas das belezas
que existem, mas não vi
as magias e alegrias
que ainda não vivi

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Poeta


E sendo poeta, tudo é mais leve
Tudo é tão raro e profundo
E ao mesmo tempo tão ligeiro, tão banal

E sendo poeta, posso ser eu
Sem tanto adeus, sem tantos ‘para sempre’
Posso sentar à beira do rio de letras
e, ainda que não perfeitas,
brincar com elas bem à vontade

E sendo poeta, o mundo é tão mais doce
Os sons tão mais suaves,
Os beijos mais molhados
- ainda que vivam só no imaginário

E sendo poeta, por que ser ordinário?
Comum é o que está despido de magia
O que suspira entre as frestas de minhas pálpebras
antes do bom devaneio delirante e insone
antes do bondoso doloroso nome
que balbuciam meus lábios

Vou sendo poeta, porque disso não me podem proibir
Vou vendo e volvendo
minha alma poeta, porque isso nem eu mesma posso negar-me
vou lendo e revolvendo
minha sina poeta, minha vida poeta, minha?
Creio que não.
Só POETA

domingo, 20 de novembro de 2011

Borboletas e Serpentes




O meu gozo
vem do gosto
matinal da tua boca
(sempre tão) interessada
em ludibriar ricos e pobres corações,
interjeições de espanto e medo
Nenhum segredo até então
Sedução pura e simples
Intenção suja e limpa
Há quem minta
não sinta

Eu sinto
Eu pinto
Mergulho no sonho
Seguro o encantamento
com unhas e dentes
entregas contentes
facas e correntes
fugas coerentes

Me embalam
Me encaram
borboletas e serpentes
Me ensinam
Me encantam
as flores, as sementes

Se mentes, mas me encantas
Te perdoo
Se sentes, e me encaras
Eu me doo

domingo, 6 de novembro de 2011

Eu Sol



Eu silencio
Escuto o vento
Escuto o pôr do sol

Misturo o tempo
à cor da lua e do sol
à velha luta de sol a sol

Neste momento
Estou em meu templo
E sou, eu mesma, o sal e o sol

Chuá



Fluindo fui
ver o fundo
da água, da alma

Voando vou
fazer o mundo
do meu jeito, sem jeito

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Pernas Pro Ar


Resolvi colocar a tua vidinha de pernas pro meu ar
Nas minhas pernas, nadando no meu mar de amar
De enfeitiçar
De delirar entre noites, bocas e açoites
De inebriar entre estrelas, beijos e ... sabe lá


Desapercebido



Dizes comigo não querer os prazeres da carne
Dizes tantas coisas que quase soam como verdade
que chego a questionar
quando meus olhos encontram os teus passeando por minha boca
que chego a então delirar
quando meus dedos encontram os teus escorregando por minha nuca

Ditas tantas regras
Miras tantas barreiras
que meus ouvidos acostumaram-se a obedecer
que meus instintos acostumaram-se a adormecer

Ditas tantas tréguas
Miras de tantas maneiras
que meu peito escuta o que tentas esquecer
que meus seios alimentam o que fala o teu prazer

Desejos desapercebidos
não sei se desaparecidos
no máximo, escondidos
nos compartimentos secretos
da tua alma cheirosa, medrosa 

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Doce Fio


Senti um gosto doce
Melei os dedos entrelaçando fios de ideia e de cabelo
Esquentei os peitos já refeitos após desfeitos os nós
que me apertavam a garganta e os tornozelos e os pelos
Recorri aos habituais zelos e desvelos de quem finge bem
derreti os velhos gelos das tuas palavras e olhares
prometi com gestos e ares de quem não mente
cometi os erros de quem não sabe o que sente

perdoe-me se te convenci
lamento se te comovi
com minha boca

perdoe-me se pareci te ouvir
lamento se só te vi
com minha miopia

Esquece, agora estamos aqui
Adormece agora
Lá fora já é noite
Lá fora agora já não é
nada que não saibas
nada que possas
nada que valha

Aquieta-te

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Para Que Flores?



Me deu aquela flor,
como quem passa assim ao acaso
e percebe a pétala a lhe sorrir
e a convidar pra uma sedução rápida e barata

Me deu aquele restinho de amor
Como se soubesse o que faria depois
E, sem notar, me obrigou a fugir
E, pra eu notar, tentou sorrir
E, sem notar, só fez fingir
Mas percebi... e ruí

Me deu aquela angustia, aquela infinita dor
Como se soubesse desfazer mais tarde
E como se estivesse ali, ou estivesse pronto
E depois te vi às voltas com meu pranto
E eu que precisava do teu manto pra me cobrir
Me vi só.. e caí

Revolvi os lençóis
Dissolvi os sonhos
em meio a tantas amargas realidades
em busca de novos e doces planos
aos quais já não pertences
dos quais já esqueceste

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Pontiagudo

Então foge. Foge do fogo. Foge do feitiço. Foge do fogo do feitiço
Foge pra alimentar esse teu medo enfermiço
Esse processo nada criativo de repetição
Esse ingresso num caminho finito
tão Visível,
Previsível
Palpável
Miserável
Intragável

Então corre. Morre no frio. Corre e mergulha. Corre pro eterno vazio.
Corre pra alimentar o coração arredio
Esse protesto contra o amor
Esse projeto de convicção
Tão pueril
Juvenil
Exagerado
Estragado
Mastigado

Foge de mim
Corre pra mim
Corre de mim
Foge pra mim
Um eterno não
Que termina sempre em sim
Uma insistência no talvez
Que sempre termina em mim

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Algo Mais




Anseio por novidades
Preciso algo mais que um beijo e obviedades

Anseio por movimento
Preciso algo mais que um jeito triste e lento

Anseio por alegrias
Preciso algo mais que alguns versos e poesias

Aguardo por novos ventos
E preciso algo mais que água para me lavar por dentro

Aguardo por novas falas
E preciso de mais que palavras, mais que estas migalhas

Amargo noites em claro
Adoçando
Embalando
Criando sonhos
Amargo dias no escuro
Adoecendo
me Amolecendo
Rompendo,
sem destreza,
com as certezas
das realezas
da vida
da amiga
da figa desfeita
da briga à espreita
da fuga
da ruga na testa
da moça na festa
que brilhava mais que a lua
da boca que sorria mais que a tua
da louca que amava e corria pra rua
e gritava: queria ser feliz e era hoje!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sofrível




Cansada da tua fala mastigada
Da tua boca programada
pra reclamações, medos e culpas

Cheia de desculpas esfarrapadas,
as estradas do teu destino não encontram saída
É bem por isso que te encontras parado no tempo
No templo dos reles mortais
Já eu, estou na beira do cais
dos sedentos por todo amor e alguma paz
dos ansiosos por todo o gosto e prazer possíveis
dos entendedores do gozo e paixões indefiníveis

Para mim chega de migalhas sofríveis
Para mim nega o que sente
e por isso mente
a  si mesmo

Adeus, já vou indo
Espero que encontres,
em teu poço sem fundo,
algo que possa trazer
algum sentido
às tuas fugas ocas
às tuas alegrias poucas
aos teus beijos sem boca
aos teus ses e senões

domingo, 4 de setembro de 2011

Declaração a Iemanjá


Gotejando estrelas e luar feitos de mar
Mergulhei na onda mais salgada
Penetrei na água mais sagrada
Entoei o canto mais enfeitado
Saudando o efeito encantado
Do barulho da espuma
que bate na pedra

No silêncio cortante que rasga a noite
quando voltas ao fundo do reino,
me jogo em teu seio
implorando tua volta
Preciso do teu som, do teu amor
E se calas meu começo,
É meu fim, fico sem meio
de me encontrar, de me mirar
sem teu espelho, sem teu empenho
não há vida, não há sentido em meu passeio
por esta Terra, por esta vida sem mar, sem amar

domingo, 28 de agosto de 2011

Simplesmente Mais Um



Consigo (res)sentir o gosto do dissabor da traição
antes mesmo do corpo consumar o primeiro toque
Consigo ouvir meu coração lamentando por tamanha entrega
antes de sentir que seria acolhido
Se me esforçar para sorrir,
só consigo uma lágrima
Se me empenhar em fingir,
só finjo mais esta página
Não sei mais mentir,
não sei mais fugir
Só sei agora viver no amor.
Só sei agora viver no hoje.
E amor, hoje me vem
sem amor
sem troca
só entrega
sem retorno
Só âmago amassado
Os lábios amargados
escondem as palavras doloridas
escolhem silenciar
escolhem sufocar
pra doer, quem sabe, menos
Os lábios cansados de repetir
resolvem consentir um beijo vazio
dado ao vento que o leva pra longe

Ah, a alegria da vida inventada,
a harmonia do amor ficção
a melodia da nova canção

Tão mais lindo o homem que inventei em ti
Tão mais integro
Tão mais belo
Tão mais único
Este que agora és, meu Senhor, já conhecia
Este já havia visto em tantos outros
Em tantos atos
Tantos sem tato
Tantos sem força
Sem fé, sem novidade
Sem ter, sem ser
Simplesmente comum
Simplesmente mais um

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Por Ele



Linda alma
Lida a calma
com a turbulência dum peito ardente
com a maledicência dum jeito quente

Luta rara
Limpa a cara
Lava as marcas
Leva as manchas
para o fundo dum mar de dores
todas apagadas pelas ondas fortes
duma Força infinita que é o oceano

Se for pra mentir, digo então que amo
Se for pra fingir, finjo então que morro
de amor mesmo, de paixão, então
de exagero e desvelo por ele 

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Toda Boa


A vida em si é toda boa
É toda prosa
É toda poesia
É toda um conto
Senão de fadas,
de sereias e duendes

Que importa se doentes
Se enfadonhos
Se velhos
Se cansados?

Temos ervas pra banhar,
benzer e tomar
Temos samba pra alegrar
Temos jovens pra admirar
Temos dias pra viver

A coisa é toda bela
Se olhar pelo lado de cá
A historia não é à toa
Se tem algo a ensinar
E aprender todos sabem,
Todos precisam!
Todos profetizam
Seu azar, e não observam:
Tudo é amar!

sábado, 20 de agosto de 2011

Arde



Tem algo em mim que arde
Que arde tanto
Que é arte, mas nem é tanto
É mais uma vontade insana
de traduzir o que a alma grita
de transcrever o que o peito teima
de amortecer o que ele tanto temia

Sem intenção
Sem mal
Sem mel
Sem sal
Só mar
Só amar
Sem explicação
Sem tradução

Então porque escrever?
Então para que dizer, o que não se diz?
Porque, se eu pudesse, faria o que não fiz...

Desligo e Percebo



Desligo tudo
Desligo-me
Só não desconecto-me do calorzinho que me toma o peito
Desconcerto-me ao me pegar pensando em tudo e nada
A sensação é tão simples, e tão profunda...
É algo que me inunda
Me assusta, mas me apraz
Me encanta e me refaz

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

(Sem) Tempo


Pra que falar de tempo, se tempo não se tem
Se tempo não se acha, não só se perde
Só se repete
Só repetem-se
os dias
os erros
As tentativas vãs
por entre pequenos vãos,
por onde escorrem os silêncios

O tempo não engana mais ninguém
Alguéns é que fingem o tempo todo 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Escutas?


Escutas?
É o vento
É senhor,como o tempo
É silencioso,às vezes
Mas não sempre
É delicioso sempre
Mas sorrateiro,às vezes

Pronta!





Teus sons são sufocantes
Tem de tudo e mais
Tem tudo demais
para quem está desacostumado
para quem está desatinado 
desesperado
desesperançado
despedaçado
depois daquela tempestade
depois daquela boa amizade
que jurava: viraria bom amor!

Teus tons inebriantes
têm a mistura mais alucinante
Têm os odores mais atrativos
Temperos os mais convidativos
Me sinto cheia de desejos criativos
Me sinto tonta, pronta pra outra
Pronta para a grande prova da vida
Pronta pra esquecer todas as feridas
e mergulhar nas ondas revoltas do mar grosso
nada manso, mas forte e intenso como deve ser o amor

domingo, 7 de agosto de 2011

Falas Inaudíveis



Senti uma vontade insana apossar-se de mim
Aquele dia enquanto falavas, nem te ouvia
Aquelas palavras, para mim, estavam vazias
Nem era culpa tua, eu que ardia
Eu que sentia a melodia
pulsando tão mais forte que o sentido
que fiquei pensando se aquilo era permitido

Afastava meus olhos de teus lábios
e em tremendo esforço para escutar
pegava-me outra vez a te vislumbrar
em outros cenários,
contextos imaginários 

sexta-feira, 29 de julho de 2011

E Então



E então fiquei ali
Esperando alguma resposta me acudir
Alguma ideia surgir
Um motivo para sorrir

E então eu percebi
Alguma coisa a me impedir
Esperando as horas por vir
Uma verdade a me mentir

E então pensei fugir
Um assombro a me invadir
Alguma sobra me fez grunhir
Esperando a dor sarar, partir

E a partir dali
Não fui mais mártir
Fui parte               
do grande todo
Fui toda
em partes
mas não tarde
para lutar por mim
E vi que não arde
se soprar com carinho
se mostrar o caminho
se gostar
se sonhar
se gozar
se sondar
o destino com fé
O menino,
chamado também
de Axé

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Silencioso



Bebo da velha e boa fonte
Miro o conhecido horizonte
Cedo às manhas dos teus lábios
Tarde demais para fugir dos pálidos
medos, frageisinhos diante do sonho
que é grande, que é forte e medonho
de grande
Inquietante,
Mesmo quietinho
E com aquele jeitinho
Veio bem de mansinho
ganhando mais e mais espaço
fazendo menos barulho, menos estardalhaço
e nem por isso me deixando lembrar do cansaço
que dá amar
que faz falar
o que se sente ou não
o que se pede em vão
o que se busca
o que não se ofusca

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Um Puto




Tentei recolocar teu valor
Talvez o que nunca tiveste
Reconsiderar
Reavaliar
Te dar um espaço
Te mostrar um pedaço
do que poderia vir a ser
do que tens para crescer
do chão que tens a percorrer
do não que um dia vais entender

Tentei te apreciar por um momento
mas lembrei a tempo
quem eras tu
O mesmo maldito
O mesmo bandido
de tempos atrás
Mesmo voraz,
não anda depressa
Represa emoções
Repensa intenções
sem pressa
sem peça composta
sem graça
sem massa muscular
sem dito popular
sem mito
sem pito
um puto
sem um puto

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Transborda



Há dias
em que sinto tanta emoção
que é como se eu própria
fosse um grande coração
Mesmo sóbria,
o que sobra
é devaneio
é um peito cheio
de gratidões e amores
de paixões e sabores
de palpitares
de altares
com belos santos
com beijos e mantos
com lágrimas e prantos
de gente simples e grata como eu
de rostos singelos e viçosos como o teu
de almas sinuosas mas bonitas como a de um falso deus
de caminhantes gargalhantes com fingido dolorido adeus

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Amor Melado



Meio sem meio
Eu tiro do meu recheio
O miolo do teu pão
E tem já um tempão
Que meu pé é doce
E o teu é salgado
Que meu beijo é mole, o teu é melado
Teu gosto é novo, o meu já manjado
Me esperas pro lanche, chego jantado
Te peço cafuné, queres xaxado
Te faço poema, queres versado
Te falo baixo, queres gritado
Te mando flores, me queres?
Coitado
Sou o que sobra de um cabra macho depois duma mulher
Sou o que implora uma chance, um respiro antes do café
Mas queres tudo de mim
Mas quente és mulher
Quente sem fim
E sem começo
Te aquietes!
Veja se pareço
Com um homem que pode ter contigo?
Tenho sim, Tenho noção do perigo
Olhe bem
Veja só
Se te cubro de amor num dia
Noutro falta pó
pro café
Falta leite
O açúcar, o melado
aquilo que seja com que te adoças
o vestido de babado
aquilo que deixa tu a mais das moças

Amor melado
Marmelada
Rio melado
Sertão melado
Eu atropelado!

É muito amor, posso não!

sábado, 2 de julho de 2011

Qual O Lado?


Não são as palavras em si,

mas seu significado
Nunca existiu de fato
o tal do certo
o tal do errado
De que lado
Mora o pecado?

quinta-feira, 30 de junho de 2011

(A)Guarde O Vazio

São letras
São siglas
São milhas
Mil e uma lendas
Signos, sinos e prendas
São histórias, poesias e prosas
Contos de fada e de bruxa
Contas de plástico
Gotas de ácido
ou perfume
Flores do campo
Vagalumes
Pequenos traçados
Vagos laços
Gestos riscados
Rosto sombrio
Página em branco
Sonho vadio
Feche a tampa
Guarde o vazio

terça-feira, 28 de junho de 2011

E Se Ela Cria, Existia


E teimavam em dizer-lhe que não existia

Mas só Deus sabia
o que ela via
o que sentia
e pressentia
Não havia dia
Mas ela intuía
O sol
Mas ela ouvia
A lua
Mas ela amava
A luta
Mas ela entoava
O som
E como adorava
O bom
E como a encantava
O belo
E como estudava
O estranho
E como buscava
O engano
da certeza - absoluta
da pureza - absoluta
da beleza - absoluta
Depois soube: obsoletas
pobres muletas
das mentes torpes
das molas tortas
que já não impulsionam
das horas mortas
que já não emocionam

terça-feira, 21 de junho de 2011

No Rastro Do Tempo


Abriu o armário
Era abril ou maio?
Bem, não importava
O relógio informava:
Era hora de seguir a vida!

Perguntou-se então
para onde a vida segue?
Para onde ninguém a percebe?
Era essa a velha sensação
Era a mesma velha impressão

E já não sabendo
qual era a missão
Seguiu o velho vento
Segurando-lhe a mão

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Para Depois

Aquela metade
Aquela verdade,
quase inteira,
eu coloquei na geladeira
para comer depois
eu coloquei na prateleira
para reler depois
Aquela boa brincadeira
Ah, guardei para nós dois

Espuma Refeita


A ressaca do mar
te seca,
te afeta,
e inquieta,
é teu quase fim
A ressaca do mar
me toca,
me toma,
se soma
à outra de mim

A espuma te esconde,
só mostrando tua fronte
a cada pequeno respiro desesperado
- quando tens chances de vir à superfície
A espuma é meu charme,
minha echarpe, meu véu
só parte de uma fonte
de infinita e intensa beleza
- que oculto para dias mais especiais

As nuvens negras se aproximam
anunciam mais chuva,
assim mais água.
Assim serei mais mar

As ondas cantam,
quebram fortes.
Isso me fortalece!
As ondas, refeitas,
voltam enormes.
Isso me engrandece!

Deixo-me conduzir
e o balanço
me entorpece
Deixo-me seduzir
mas canso.
Me aquece
a água fria
a areia fria
a pele fria
daquele que me inebria
daquele que me fez arredia

domingo, 12 de junho de 2011

Romantismo

Sabe-se lá o que foi feito do meu romantismo
Há quem diga que é só egoísmo
Outros juram ser puro cinismo
Mas eu sinto muito:
é só descrença
É só consequência
do que aprendi desaprendendo o que sabia
do que esqueci repetindo que não podia

sábado, 11 de junho de 2011

Cantiga de Roda

Era uma vez
uma vida bandida.
Era danada de boa,
mas esquisita.
Tinha história nova.
E repetida.
Tinha cantiga de roda.
E às vezes não tinha.
Vinha gente da vila e de fora.
E tinha gente que não vinha...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Império da Fé


Da fé,
o que entendo,
é que creio!
Sem dúvida
ou receio
Sem começo
sem meio,
sem fim.
Está tudo aqui
bem dentro de mim
Está tudo bem por aqui

Acredito em tudo
Tudo aquilo que me faz bem
Tudo aquilo que em mim tem
Posso fazer uma simples oração,
Uma boa mandinga ou uma prece
Mas não se apresse,
Não queria me traduzir
Todo truque
Todo mistério
Pode parecer simples,
Mas faz parte do meu império de FÉ
Meu reino, como sempre, de pé
No alto
No alvo
Na mira das benzeduras certeiras
Na onda dos barquinhos, na areia
No fundo da alma, da maré
No raso da alma, o axé

sábado, 28 de maio de 2011

Transpor



Transborda pelas portas da pele
Pelas cordas do violão cansado
Pelos corpos sutis – e os nem tanto
Pelos dedos, pela mão e pelo manto
Pelas caras, pelas malas
Pelos pêlos, pelas máscaras
Pelas parcas idéias que me tomam a mente
Pelas marcas que surgiram de repente
Pelas lanças de que fujo
Pelas lamas em que me sujo
Pelos muros e lamúrias
Pelas histórias
Pelas vitórias
Pelas memórias apagadas
Transportadas por passagens secretas

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Não Cutuques Minha (F)Ilha


Não mexe com minha Ilha, não toca na minha filha,
na minha mãe, na minha linda, na minha lenda
Se não compreendes o teu encanto,
melhor nem mexer no pranto nato que ela tem e oculta.
Se não consegues preservá-la, nem vem olhá-la assim tão de perto.
É, meu caro amigo, podes ter uma surpresa
quando dum sono leve desperto,
te veres bem perto de um olho de sapo a te mirar.
Sapo com o olho esbugalhado,beiço costurado,
pedido socorro anunciado numa súplica implícita.
Não haverá benzedeira solícita
que dê jeito num feitiço tão perfeito.
E para ti será bem feito!
Quem mandou abusar das magias desta terra?
Quem disse que mereces paz se propões guerra?
se tuas mãos erram no peso e na medida
se te colocas a cutucar uma ferida
que não está ao teu alcance compreender...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Feijão Preto


O cheirinho do bom feijão escapa da panela de barro, convidativo
Não se sabe bem como nem quando,
mas a noticia se espalha mais que o perfume do quitute
A cabana está cheia, é gente de todo lugar
Abancam-se pretos e brancos ao redor da esteira
E a água fervendo na chaleira é premissa dum bom café à vista
Ninguém que chega se sente visita, afinal, é dia das Santas Almas Benditas
Com Eles, todos sentem-se ‘de casa’, pois todos são da Sua família

Servida a feijoada, sorrisos distribuem-se de boca em boca
O melado de cana adoça o café, tempera a gostosa rosca
e salienta a doçura do olhar do bom pai-velho

E Saravá,
que essa doçura
seja sempre o nosso exemplo, nos lembrando
que amargura não cabe no caminhar
dum seguidor do Pai Oxalá

E Saravá,
que sua brandura, sempre à mostra
esteja a nos mostrar que o tempo
não é igual em todo lugar
que é preciso amar
que é preciso perdoar

Negros dedos
a macerar ervas e quebrantes
a dilacerar feitiços e mazelas
a tocar tambores e berrantes
a rezar
a afagar
a ensinar

Negros corações
carregados de força e fé
carregados de amor e axé

Do navio para o Brasil, onde sentem e rezam
Do tronco para o toco, onde sentam e benzem

Ao meu negro coração, gratidão
Das minhas raízes, orgulho
Ao meu negro passado, gratidão
Das minhas matizes, orgulho
Aos meus ancestrais, gratidão
Da minha curimba, orgulho
Aos meus guias atuais, gratidão
Da minha mandinga, orgulho

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Tempestade De Que Me Alimento


Às gargalhadas, ridicularizo o medo
Às pressas, revelo meus segredos
à primeira estrela que aparece entre as nuvens

Onde alguns vêem tempestade assustadora,
vejo água renovadora
Dor alguma
Só força

Em meio à fumaça que se move no céu
Vejo surgir uma fresta de luz
Depois outra
São raios
Seguidos de trovões

Botões de rosa brotam dum chão
pisoteado por qualquer caminhante desavisado

Traços de uma história contada ao vento
cravada de pássaros cintilando pelas bordas do teto do meu lar
que é livre, solto, sem paredes
crivada de lampejos desejosos de menos sede e mais dilúvio

domingo, 8 de maio de 2011

Magia de Mãe

Embalou meus sonhos
Ensinou-me os passos
as palavras, os segredos
Abalou minhas certezas, convidando-me a repensar
Quebrou as minhas dúvidas, encorajando-me a lutar
Mostrou-me que no mundo tenho meu lugar
Levou-me para ver a luz do luar e, no dia seguinte,
Queimou minhas feridas à luz do sol
Lavou minhas mágoas e manhas em água corrente
E deitou-me na grama para eu sentir a terra
Pediu silêncio para escutarmos o vento
Ali, segredos me revelou
Sorrindo um sorriso largo e farto
Segurou-me a mão como sempre o fizera e
dirigiu-se à praia, e nas águas sagradas do mar me banhou
entregou-me às ondas, às sereias, aos Devas, a Deus e à Deusa
mas nunca, nunca entregou-me à minha própria sorte
diz que não acaba o amor, nem quando chegar morte
diz que a magia de verdade é a do amor
que ninguém vê, mas todos sentem
que se multiplica e espalha sem alarde
que se enraíza em solo fértil ou fraco
que alimenta, nutre
que enaltece, doa

Essa mulher boa,
Essa doçura de ser
que já foi minha morada
agora vive em mim
Ensinamentos inesquecíveis
Reflexos dentro e fora

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Leve

Liberdade

Soltas as amarras
Viradas as páginas
sem mais lágrimas,
sem histórias amargas
só vitórias somadas
só belezas contadas

Realidade

Soltas as palavras
Viradas as noites
sem ansiedade
sem sentimentalismo
só boas comemorações
só gostosas inspirações

Variedade

Soltos os sons
Variantes os tons
sem excessos
sem exceções
só a pureza
só a leveza dessa simplicidade

domingo, 1 de maio de 2011

Varal


Olhei aquele céu assim com cara de quem queria chover em mim
E me perguntei o porquê do complô
Tentei estender algo no varal de idéias da minha mente tão cheia de coisa alguma que pudesse ser útil para um ser vivente no atual mundo previsível em que me prenderam
Um cesto de roupas limpas no chão
Um cento de sons presos no colchão
Uma vida inteira presa na garganta e nada que me desse ânimo para soltar a voz
Cada lacuna que havia fazia bem mais sentido oca mesmo
Cada loucura vivida parecia agora qualquer coisa a esmo

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Vida Te Acha

Não adianta se esconder, a vida te acha

Nem adianta sorrir, todos sabem que vens daqui, que sais dali

Os enganos a que te forças, não são os que te movem para frente

Olhe teus pés, estás no mar, de onde vêm tuas raízes

A luz que reluz da lua, não é a mesma que brilha no teus olhos

mas é certamente a que te dá o toque suave, a força intensa

Não tenhas a pretensa idéia de que tudo resolverás

que todo mal se dissipará ao primeiro sopro

Mas se o mal nem se formar, não haverá tanto a se resolver

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Luz de Ogum

 
 
És meu exemplo de luta, em tua força me inspiro
Sob a tua capa me protejo, mas jamais me escondo
Guiada por tua forte luz
sinto-me acolhida, abrigada,fortalecida
Encorajada, cavalgo contigo em tua garupa
rumo a estradas desconhecidas, mas sempre seguras
rumo à felicidade escondida, mas sempre por ti desvendada
Tua fibra e garra me lembram: não há o que temer!
Nosso exército é de amor, temos a bandeira mais sagrada
Tenho a inabalável fé na tua espada, nas graças alcançadas
No teu escudo eu confio,
por teus passos eu me guio
em teus braços,meu destino
Nenhum desatino há de me acometer
Sei que estarás sempre aqui para me proteger

terça-feira, 19 de abril de 2011

Filhos da Terra




Este é meu povo
Daí vem meu sangue
Nem palanques, nem ouros
mudariam meu discurso
Sei quem são, sei quem sou,
não mudo meu percurso
Existem histórias mil,
mas bem sabemos quem são os pais desse Brasil
quem são as mães desta pátria bem e nem tão gentil

quem vive as verdades da terra
quem entende que vive cada planta
que com cada animal se encanta
que com todo mineral se fortalece
que com cada tempestade se engrandece
quem todo dia dança, ora e canta
quem com seus cânticos atinge a fé
quem com suas lendas espalha história,
quem tenta não apagar da memória de seu povo
de onde se veio, para onde se vai

Que a Mãe Terra nos acolha
Que a Mãe Terra nos perdoe