quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Doce Fio


Senti um gosto doce
Melei os dedos entrelaçando fios de ideia e de cabelo
Esquentei os peitos já refeitos após desfeitos os nós
que me apertavam a garganta e os tornozelos e os pelos
Recorri aos habituais zelos e desvelos de quem finge bem
derreti os velhos gelos das tuas palavras e olhares
prometi com gestos e ares de quem não mente
cometi os erros de quem não sabe o que sente

perdoe-me se te convenci
lamento se te comovi
com minha boca

perdoe-me se pareci te ouvir
lamento se só te vi
com minha miopia

Esquece, agora estamos aqui
Adormece agora
Lá fora já é noite
Lá fora agora já não é
nada que não saibas
nada que possas
nada que valha

Aquieta-te

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Para Que Flores?



Me deu aquela flor,
como quem passa assim ao acaso
e percebe a pétala a lhe sorrir
e a convidar pra uma sedução rápida e barata

Me deu aquele restinho de amor
Como se soubesse o que faria depois
E, sem notar, me obrigou a fugir
E, pra eu notar, tentou sorrir
E, sem notar, só fez fingir
Mas percebi... e ruí

Me deu aquela angustia, aquela infinita dor
Como se soubesse desfazer mais tarde
E como se estivesse ali, ou estivesse pronto
E depois te vi às voltas com meu pranto
E eu que precisava do teu manto pra me cobrir
Me vi só.. e caí

Revolvi os lençóis
Dissolvi os sonhos
em meio a tantas amargas realidades
em busca de novos e doces planos
aos quais já não pertences
dos quais já esqueceste

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Pontiagudo

Então foge. Foge do fogo. Foge do feitiço. Foge do fogo do feitiço
Foge pra alimentar esse teu medo enfermiço
Esse processo nada criativo de repetição
Esse ingresso num caminho finito
tão Visível,
Previsível
Palpável
Miserável
Intragável

Então corre. Morre no frio. Corre e mergulha. Corre pro eterno vazio.
Corre pra alimentar o coração arredio
Esse protesto contra o amor
Esse projeto de convicção
Tão pueril
Juvenil
Exagerado
Estragado
Mastigado

Foge de mim
Corre pra mim
Corre de mim
Foge pra mim
Um eterno não
Que termina sempre em sim
Uma insistência no talvez
Que sempre termina em mim

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Algo Mais




Anseio por novidades
Preciso algo mais que um beijo e obviedades

Anseio por movimento
Preciso algo mais que um jeito triste e lento

Anseio por alegrias
Preciso algo mais que alguns versos e poesias

Aguardo por novos ventos
E preciso algo mais que água para me lavar por dentro

Aguardo por novas falas
E preciso de mais que palavras, mais que estas migalhas

Amargo noites em claro
Adoçando
Embalando
Criando sonhos
Amargo dias no escuro
Adoecendo
me Amolecendo
Rompendo,
sem destreza,
com as certezas
das realezas
da vida
da amiga
da figa desfeita
da briga à espreita
da fuga
da ruga na testa
da moça na festa
que brilhava mais que a lua
da boca que sorria mais que a tua
da louca que amava e corria pra rua
e gritava: queria ser feliz e era hoje!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sofrível




Cansada da tua fala mastigada
Da tua boca programada
pra reclamações, medos e culpas

Cheia de desculpas esfarrapadas,
as estradas do teu destino não encontram saída
É bem por isso que te encontras parado no tempo
No templo dos reles mortais
Já eu, estou na beira do cais
dos sedentos por todo amor e alguma paz
dos ansiosos por todo o gosto e prazer possíveis
dos entendedores do gozo e paixões indefiníveis

Para mim chega de migalhas sofríveis
Para mim nega o que sente
e por isso mente
a  si mesmo

Adeus, já vou indo
Espero que encontres,
em teu poço sem fundo,
algo que possa trazer
algum sentido
às tuas fugas ocas
às tuas alegrias poucas
aos teus beijos sem boca
aos teus ses e senões

domingo, 4 de setembro de 2011

Declaração a Iemanjá


Gotejando estrelas e luar feitos de mar
Mergulhei na onda mais salgada
Penetrei na água mais sagrada
Entoei o canto mais enfeitado
Saudando o efeito encantado
Do barulho da espuma
que bate na pedra

No silêncio cortante que rasga a noite
quando voltas ao fundo do reino,
me jogo em teu seio
implorando tua volta
Preciso do teu som, do teu amor
E se calas meu começo,
É meu fim, fico sem meio
de me encontrar, de me mirar
sem teu espelho, sem teu empenho
não há vida, não há sentido em meu passeio
por esta Terra, por esta vida sem mar, sem amar