quinta-feira, 30 de junho de 2011

(A)Guarde O Vazio

São letras
São siglas
São milhas
Mil e uma lendas
Signos, sinos e prendas
São histórias, poesias e prosas
Contos de fada e de bruxa
Contas de plástico
Gotas de ácido
ou perfume
Flores do campo
Vagalumes
Pequenos traçados
Vagos laços
Gestos riscados
Rosto sombrio
Página em branco
Sonho vadio
Feche a tampa
Guarde o vazio

terça-feira, 28 de junho de 2011

E Se Ela Cria, Existia


E teimavam em dizer-lhe que não existia

Mas só Deus sabia
o que ela via
o que sentia
e pressentia
Não havia dia
Mas ela intuía
O sol
Mas ela ouvia
A lua
Mas ela amava
A luta
Mas ela entoava
O som
E como adorava
O bom
E como a encantava
O belo
E como estudava
O estranho
E como buscava
O engano
da certeza - absoluta
da pureza - absoluta
da beleza - absoluta
Depois soube: obsoletas
pobres muletas
das mentes torpes
das molas tortas
que já não impulsionam
das horas mortas
que já não emocionam

terça-feira, 21 de junho de 2011

No Rastro Do Tempo


Abriu o armário
Era abril ou maio?
Bem, não importava
O relógio informava:
Era hora de seguir a vida!

Perguntou-se então
para onde a vida segue?
Para onde ninguém a percebe?
Era essa a velha sensação
Era a mesma velha impressão

E já não sabendo
qual era a missão
Seguiu o velho vento
Segurando-lhe a mão

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Para Depois

Aquela metade
Aquela verdade,
quase inteira,
eu coloquei na geladeira
para comer depois
eu coloquei na prateleira
para reler depois
Aquela boa brincadeira
Ah, guardei para nós dois

Espuma Refeita


A ressaca do mar
te seca,
te afeta,
e inquieta,
é teu quase fim
A ressaca do mar
me toca,
me toma,
se soma
à outra de mim

A espuma te esconde,
só mostrando tua fronte
a cada pequeno respiro desesperado
- quando tens chances de vir à superfície
A espuma é meu charme,
minha echarpe, meu véu
só parte de uma fonte
de infinita e intensa beleza
- que oculto para dias mais especiais

As nuvens negras se aproximam
anunciam mais chuva,
assim mais água.
Assim serei mais mar

As ondas cantam,
quebram fortes.
Isso me fortalece!
As ondas, refeitas,
voltam enormes.
Isso me engrandece!

Deixo-me conduzir
e o balanço
me entorpece
Deixo-me seduzir
mas canso.
Me aquece
a água fria
a areia fria
a pele fria
daquele que me inebria
daquele que me fez arredia

domingo, 12 de junho de 2011

Romantismo

Sabe-se lá o que foi feito do meu romantismo
Há quem diga que é só egoísmo
Outros juram ser puro cinismo
Mas eu sinto muito:
é só descrença
É só consequência
do que aprendi desaprendendo o que sabia
do que esqueci repetindo que não podia

sábado, 11 de junho de 2011

Cantiga de Roda

Era uma vez
uma vida bandida.
Era danada de boa,
mas esquisita.
Tinha história nova.
E repetida.
Tinha cantiga de roda.
E às vezes não tinha.
Vinha gente da vila e de fora.
E tinha gente que não vinha...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Império da Fé


Da fé,
o que entendo,
é que creio!
Sem dúvida
ou receio
Sem começo
sem meio,
sem fim.
Está tudo aqui
bem dentro de mim
Está tudo bem por aqui

Acredito em tudo
Tudo aquilo que me faz bem
Tudo aquilo que em mim tem
Posso fazer uma simples oração,
Uma boa mandinga ou uma prece
Mas não se apresse,
Não queria me traduzir
Todo truque
Todo mistério
Pode parecer simples,
Mas faz parte do meu império de FÉ
Meu reino, como sempre, de pé
No alto
No alvo
Na mira das benzeduras certeiras
Na onda dos barquinhos, na areia
No fundo da alma, da maré
No raso da alma, o axé