Tá, tá. Mas daí pensou: ‘Fim, de março é o fim do verão?’. Não sabia e ficou com preguiça de pegar o calendário lá na cozinha. Naquela tarde lhe pareceu melhor ficar sentada na varanda esperando o dia – ou o mundo – finalmente terminar. Pegou a xícara de chá debaixo da rede, e mesmo notando que nem mais morna estava, sorveu um gole, e depois outro. Embalou-se ali por minutos, quem sabe horas. E lentamente sentiu a brisa volvendo-lhe os cabelos. E, pouco a pouco, sentiu que o sono a vencia. Adormecera. E dormiu um daqueles sonos profundos. Achava até que tinha sonhado. Mas por que, raios, nunca conseguia recordar dos sonhos? No máximo entrevia recortes pelas frestas da memória e lembranças vagas num breu estranho, perdidas no meio de um cérebro confuso a projetar imagens desconexas.
Sem saber se era ou não verão, ela acordou e escolheu que seria inverno. Escolheu ela mesma ser o próprio inverno. Pronto! Serei fria. Fria, não. Gelada mesmo. E foi assim seguindo o fluxo incoerente dos meses, que teimam em correr ou empacar, conforme lhes convém. No inferno astral do mês de agosto ela escolheu não mais morrer de desgosto. Lançou-se então ao gosto torpe do sexo profano, do homem mediano, que não tem sal, mas ao menos não a faz adoecer, nem padecer no dia seguinte. Entregava-se a ele olhando para o teto, sentindo prazer na carne, mas não na alma. Será mesmo que tinha alma? Nem se lembrava. E como era isso de gostar mesmo? ‘Esquece’, pensava. Isso já não importa mais agora. Vamos cair nos braços do lindo moreno, que neste momento fazia mil acrobacias a fim de chamar-lhe a atenção e quem sabe ganhar algum espaço na sua vida, pois que até agora só ganhara em sua cama. Mas ela sequer percebia as intenções do pobre rapaz, nem o julgava capaz de pensamentos, quem dirá de intenções, que são os pensamentos seguindo rumo de um planejamento. E foi levando aquela vidinha leviana, alimentando aquela paixão(?) vadia que nem mesmo ardia em seu peito. Mas ao menos tinha desfeito o pensamento fixo naquele que nem pensamento tinha nela, naquele que nem sequer, não, não pensava sequer em voltar no verão seguinte.
E os dias correndo. Lentos, às vezes. Noutras, acelerado. O tempo vinha mostrando a ela que um coração dilacerado não se cura com melindres. Não sara com fugas. Não te deixa fugir das rugas que o semblante cisma em ostentar com certo ódio e satisfação. Então ela se enchia de cremes e se enfiava debaixo dos lençóis gelados. E pensava quando então teria fim aquele dilema? Sei lá, talvez nem tivesse. Ou talvez ela nem quisesse, pensava. Que graça teria, agora que já estava tão habituada aos devaneios noturnos, deitar e ler seu livrinho de cabeceira?
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