O cheirinho do bom feijão escapa da panela de barro, convidativo
Não se sabe bem como nem quando,
mas a noticia se espalha mais que o perfume do quitute
A cabana está cheia, é gente de todo lugar
Abancam-se pretos e brancos ao redor da esteira
E a água fervendo na chaleira é premissa dum bom café à vista
Ninguém que chega se sente visita, afinal, é dia das Santas Almas Benditas
Com Eles, todos sentem-se ‘de casa’, pois todos são da Sua família
Servida a feijoada, sorrisos distribuem-se de boca em boca
O melado de cana adoça o café, tempera a gostosa rosca
e salienta a doçura do olhar do bom pai-velho
E Saravá,
que essa doçura
seja sempre o nosso exemplo, nos lembrando
que amargura não cabe no caminhar
dum seguidor do Pai Oxalá
E Saravá,
que sua brandura, sempre à mostra
esteja a nos mostrar que o tempo
não é igual em todo lugar
que é preciso amar
que é preciso perdoar
Negros dedos
a macerar ervas e quebrantes
a dilacerar feitiços e mazelas
a tocar tambores e berrantes
a rezar
a afagar
a ensinar
Negros corações
carregados de força e fé
carregados de amor e axé
Do navio para o Brasil, onde sentem e rezam
Do tronco para o toco, onde sentam e benzem
Ao meu negro coração, gratidão
Das minhas raízes, orgulho
Ao meu negro passado, gratidão
Das minhas matizes, orgulho
Aos meus ancestrais, gratidão
Da minha curimba, orgulho
Aos meus guias atuais, gratidão
Da minha mandinga, orgulho